Colunistas

Voltamos ao passado

Naquela rua de chão batido, papai estacionava o caminhão na esquina, morávamos ao lado. Um herói sem capa e com poderes de amar, proteger e viver pela família descia do caminhão. Cansado e feliz por rever a família. Chegava e abraçava todos nós, felicidade completa. Depois, quando deixou de ser caminhoneiro, mudamos para a fazenda, onde ele seria gerente. Lugar perdido no meio do sertão goiano, mas estávamos juntos e felizes.

Voltar ao passado é bom, mas machuca muito. Depois de décadas, eu e meu irmão voltamos naquele bucólico lugar, quase tudo está no mesmo lugar, apenas algumas modificações e praticamente nenhuma benfeitoria. Por um momento pensei estar vendo o meu velho Pai, trabalhando como sempre fez, na oficina; nas máquinas e equipamentos agrícolas. A vida passou, o terreiro mudou muito, o pomar não existe mais e muito menos aquela estrada que descia para a represa, mas a oficina continua na mesma simplicidade, muitas coisas mudaram e tudo está com aquele ar de abandono.

Não consegui segurar e meus olhos marejaram, comecei então a ver ali toda nossa vida naquele lugar mágico, o gado mugindo, mamãe varrendo o quintal, papai chegando e saindo para a roça naquela labuta danada na caminhonete verde claro. Não dá para esquecer de quando mudamos para a sede, eu e meu irmão ganhávamos uns trocados para abrirmos as porteiras da fazenda, pois a estrada que seguia para São Luís do Norte passava por dentro. Um choro de saudades de tudo aquilo, pés sujos e o cheiro de vida na roça.

Aureliano Martins Peixoto

Poeta, cronista, articulista e escritor.

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